Na manhã da passada segunda-feira, 28 de abril, Portugal foi surpreendido por um apagão generalizado que deixou grande parte do País sem eletricidade, a partir das 11h38. Durante várias horas, o cenário foi de caos: lojas sem luz, transportes públicos paralisados e uma sensação de incerteza generalizada. O corte de energia não só afetou o dia a dia dos cidadãos, mas também paralisou serviços essenciais e comprometeu a comunicação entre as regiões.
A situação, que também afetou parte de outros países da Europa, levantou questões sobre a vulnerabilidade das infraestruturas e a preparação para situações de emergência desta magnitude. Embora a causa ainda esteja sob investigação, o fornecimento de energia foi restabelecido de forma gradual, mas os primeiros minutos do apagão revelaram a fragilidade dos sistemas de comunicação e a necessidade urgente de respostas rápidas. A reação das autoridades foi crucial para minimizar os danos e garantir a continuidade dos serviços vitais enquanto tudo tentava voltar ao normal.
Em entrevista à New in Oeste, Orlando Rodrigues, vice-presidente da Câmara Municipal da Nazaré, explicou como decorreu o processo de gestão da crise nas primeiras horas do apagão e os desafios enfrentados para garantir a segurança e o bem-estar da população.
Como foi a resposta da Câmara Municipal nos primeiros minutos do apagão?
Estávamos em reunião de Câmara quando o apagão ocorreu e, inicialmente, pensámos que fosse uma anomalia no edifício da Biblioteca Municipal. No entanto, poucos minutos depois, percebemos que o problema se estendia a toda a Nazaré. Logo aí, a situação revelou-se de proporções nacionais. Aos poucos, fomos percebendo que a situação era mais complexa do que imaginávamos. Tínhamos o comandante da Proteção Civil no terreno e concluímos que a situação ia para além das nossas capacidades de resolução imediata. Por isso, começámos a organizar as ações e a reunião terminou por volta das 14h30. Às 15h30, tivemos uma nova reunião com a comissão municipal, onde ativámos o plano de emergência da Nazaré. O nosso principal objetivo era dar resposta à situação, que envolvia, além do corte de energia, a possibilidade de corte no abastecimento de água, que, de facto, aconteceu em algumas áreas da vila. Felizmente, o impacto não foi generalizado, afetando apenas cerca de 15 por cento do concelho. A partir daí, continuámos a monitorizar a situação, sempre prontos para agir conforme a necessidade. A comissão determinou que, assim que a energia elétrica e o abastecimento de água fossem restabelecidos, o plano de emergência seria desativado.
As escolas fecharam?
As instituições de ensino não fecharam, porque o apagão ocorreu por volta das 11h30 e, como as refeições já estavam preparadas, as aulas continuaram normalmente, mesmo sem eletricidade. A transportadora Rodoviária do Oeste alertou-nos que, caso o problema persistisse, poderiam não conseguir garantir os transportes escolares no dia seguinte devido a limitações de combustível. Quando começámos a perceber que a situação poderia durar até 24, 48 ou até 72 horas, a nossa preocupação foi manter as escolas abertas, mas com a garantia de que o transporte e o abastecimento fossem assegurados.
O centro de saúde funcionou normalmente?
Sim, colocámos um gerador em funcionamento no centro de saúde, especialmente para garantir que as vacinas, que precisam de refrigeração, pudessem ser mantidas de forma adequada. Contámos também com o apoio da PSP, que ajudou a garantir o abastecimento de medicamentos em farmácias, como a insulina, que precisa de ser armazenada sob condições específicas. Felizmente, não foi necessário usar o gerador de grande potência que tínhamos à disposição para mitigar o impacto no abastecimento de água, dado que a situação foi controlada rapidamente. Preocupámo-nos com as pessoas mais vulneráveis, como os idosos e aqueles referenciados pelos serviços de saúde, mas, felizmente, não houve necessidade de intervenção adicional.”
Tiveram contacto com o governo? Como se mantiveram informados?
Mantivemos contacto constante com a Autoridade Nacional de Proteção Civil, que realizou reuniões tanto a nível nacional quanto regional. Fomos recebendo atualizações sobre as medidas em desenvolvimento em todo o País. Foi um cenário estranho e tivemos de nos adaptar.
Como foi a comunicação com os munícipes, considerando a falha das redes móveis e outros canais de comunicação?
Inicialmente, tentámos usar a rádio local, a Rádio Nazaré, mas descobrimos que, infelizmente, não tinha gerador e ficou inoperacional. Por isso, recorreu-se à plataforma do Facebook, embora soubéssemos que nem todos os cidadãos tinham acesso. As comunicações foram um grande desafio e esta situação evidenciou a necessidade de reforçar os canais em caso de emergências. Começámos a explorar alternativas como as rádios da polícia marítima, que não dependem da rede elétrica. É algo a ter em conta para o futuro.
Falando no futuro, já existem protocolos internos para melhorar a preparação do concelho, no caso de se registarem situações semelhantes?
Temos o plano municipal de proteção civil que está a ser atualizado. Fizemos o que conseguimos, com todas as limitações que foram ocorrendo porque lá está, existem variáveis que não estão pensadas, uma coisa é corte de luz outra é corte de comunicações total, ou seja, nunca se pensou que podia haver quebra de comunicações assim. Foi tudo posto em cima da mesa e felizmente foi um processo que demorou pouco tempo.
Consegue ver algo de positivo no que aconteceu?
Sim, apesar de tudo, acredito que a resposta foi positiva, tanto nas grandes cidades como no concelho da Nazaré. Claro que houve um grande stress por parte dos cidadãos. Alguns supermercados fecharam por falta de stock, houve imensas filas nas bombas de combustível, o que agravou a situação de caos que acompanha qualquer situação de emergência. Porém, conseguimos manter a calma, tomar decisões ponderadas e ouvir todas as partes envolvidas. As escolas reabriram, os serviços funcionaram e, no final, o impacto no concelho da Nazaré foi minimizado.
No dia de hoje, todos os serviços estão a funcionar normalmente?
Até ao momento, não tenho conhecimento de qualquer anomalia nos serviços. Tudo está a funcionar normalmente e sem grandes dificuldades.