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Nesta quinta do Cadaval há provas de vinhos, passeios e experiências de ecoturismo

A quarta geração da família Vivas transformou a Quinta do Olival da Murta numa produção vinícola biológica, com muito para conhecer.
A uma hora de Lisboa.

Entre a Serra de Montejunto e o Atlântico, no coração do Oeste, encontra-se a Quinta do Olival da Murta, uma propriedade que atravessa gerações e que se tem reinventado ao longo do tempo. A história desta quinta remonta ao início do século XX, quando o bisavô de Joana Vivas, Manuel Vivas, geria uma exploração agrícola diversificada, onde vinhas, pomares e cereais coexistiam com a criação de animais. O vinho era a grande aposta e vendia-se a granel, como era tradição na região.

Com o passar das décadas, a produção foi-se ajustando às novas dinâmicas de mercado. Os garrafões deram lugar ao vinho engarrafado sob a marca Quinta da Murta, mas, por um período, a atividade vitivinícola perdeu fôlego, limitando-se à venda de uvas. Foi com a quarta geração da família Vivas, composta por Joana, de 47 anos, os irmãos e os primos, que a propriedade encontrou um novo rumo e se deu a grande mudança para a agricultura biológica.

“Estávamos com bastante receio, porque estamos numa região com condições ambientais especiais: muitas humidades, muitas chuvas matinais, muitos nevoeiros, o que é bastante desafiante na viticultura”, conta Joana à NiO.

Criada entre as vinhas da quinta, a anfitriã nasceu em Lisboa, mas mudou-se para o campo ainda pequena. Apesar de ter seguido o caminho da Arqueologia, profissão que exerceu durante vários anos, sentiu que não estava plenamente realizada.

Quando os avós faleceram, surgiu a necessidade de alguém na família assumir a continuidade da quinta, e foi então que decidiu abraçar esse desafio. “Era a nossa casa e nós queríamos dar-lhe um futuro”, afirma.

Sem estudos em Agricultura ou Enologia, mas com uma vontade muito grande, foi aprender com outros pequenos produtores e investiu em formação. Juntamente com os primos e o irmão, que estudou Agricultura Biológica, honra a tradição familiar, introduzindo inovações que acredita que os avós, se pudessem ver, aprovariam com orgulho.

Desde 2013, os vinhos Serra Oca tornaram-se o centro da atividade da quinta, assentes em princípios de agricultura biológica e, mais recentemente, regenerativa. “Temos vindo, com os anos, a reconverter os espaços, a agricultura, a biodiversidade, para voltar a ser uma unidade mais sustentável e autónoma, e que não seja só a monocultura da vinha”, explica Joana.

A ideia é simples: trabalhar com a natureza e não contra ela. O solo é recuperado e enriquecido, promovendo um ecossistema sadio onde as vinhas coexistem com leguminosas e árvores. O resultado são vinhos autênticos, exportados para mercados exigentes como o dos Estados Unidos, Japão e vários países europeus.

A filosofia da Quinta do Olival da Murta vai para além da produção vinícola. Sendo um projeto familiar, a ligação humana está no centro de tudo. Mulheres que foram mães encontram apoio para equilibrar o trabalho e a vida familiar, os trabalhadores externos à família têm uma gestão humanizada, que valoriza os tempos e as necessidades de cada um.

Outro exemplo é a cadeia de fornecimento, que privilegia pequenos produtores com valores alinhados, como no caso da venda de uva a outros vinicultores igualmente especializados nos ditos vinhos naturais, criando uma espécie de rede de proximidade. “Isso também nos permite ter uma rede de contactos, parceiros e colegas com quem vamos crescendo juntos, ajudando-nos e apoiando-nos mutuamente”, refere.

Até a parte comercial é pensada com o mesmo critério: os parceiros entendem e explicam aos clientes porque um vinho biológico tem um preço diferente, partilhando a história e a essência por detrás de cada garrafa.

Prova de Vinhos Serrra Oca com produtos regionais.

Foi assim que nasceu a ideia de abrir a quinta ao ecoturismo. Localizada no Cadaval, a cerca de uma hora de Lisboa e perto das praias do Oeste, a propriedade começou a atrair visitantes interessados não apenas em vinho, mas nas práticas da agricultura consciente e regenerativa.

As provas de vinhos (35€), por exemplo, vão muito além de uma simples visita guiada. Durante aproximadamente duas horas, os participantes conhecem a família, passeiam pelas vinhas, aprendem sobre os métodos sustentáveis de produção e, no final, desfrutam de uma prova acompanhada por produtos típicos da região.

Mas há muito mais por explorar. Para além de poderem fazer parte das vindimas e processo de vinificação (40€), a Quinta do Olival da Murta convida os visitantes a deixarem a sua marca no território através das campanhas de plantação de árvores.

Estas ações (35€) acontecem no início do outono e no final do inverno, permitindo que cada participante contribua para a regeneração do ecossistema. Cinco anos depois de lançar a iniciativa, a quinta já exibe um mosaico vivo de pequenas árvores e arbustos, plantadas por quem por lá passou e quis fazer parte desta história.

Para quem procura uma experiência que combina tradição, sustentabilidade e um profundo respeito pela natureza, a Quinta do Olival da Murta é um destino imperdível. Se tem interesse na flora local, o passeio de identificação de plantas autóctones (35€) pode ser uma ótima opção.

Se viajar de autocaravana, saiba que a propriedade está inscrita na plataforma EasyCamp. Pode pernoitar nesta estrutural rural por uma noite e simplesmente adquirir os produtos da quinta como moeda de troca. Além disso, este cenário único está disponível para a realização de eventos festivos, num registo mais descontraído, na sala dos tonéis, uma antiga adega, tornando qualquer celebração ainda mais especial.

Todas as visitas podem ser agendadas pelo site ou pelas redes sociais, onde as campanhas especiais de plantação são anunciadas pontualmente.

O dever de partilhar o espaço com outras pessoas

Com a sorte de ter um lugar tão especial, Joana e a sua família sentem que é importante partilhá-lo e usá-lo como forma de promover a cultura e a consciência ambiental. “Achamos que podemos ter um papel importante e que é nosso dever proporcionar este espaço a outras pessoas”, diz.

Aberto ao público, o evento anual Avinhai é um reflexo desta visão. Realizado no fim de maio, junta pequenos produtores com uma filosofia mais natural, criando um encontro entre vinho, cultura e comunidade.

“A ideia é trazer as pessoas para aqui, para se aproximarem dos produtores, e para que possam perceber que a agricultura é um processo longo, e que envolve muitos riscos”. Para Joana é fundamental haver mais consciencialização dos consumidores “Todos temos um papem muito importante enquanto consumidores”, diz.

O futuro é olhado com esta preocupação e com novas ambições à mistura. A quinta, com várias construções e uma área extensa pode vir a ser também um espaço de divulgação cultural, onde seja possível acolher projetos, parcerias e atividades como concertos, exposições e performances. Há ainda o desejo de desenvolver residências artísticas, reforçando a ligação entre arte, natureza e vinho.

Com espaço para crescer e muitas ideias em mente, a Quinta do Olival da Murta é um projeto em constante evolução, onde cada passo representa um equilíbrio entre tradição e futuro.

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FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Quinta do Olival da Murta
    2550-451 Cadaval
ESTILO
turismo rural
AMBIENTE
wine house

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