Enquanto de um lado parece estar pousada no terreno, do outro percebe-se o gesto singelo que distingue esta casa na Costa de Prata. Com uma forma simples e geométrica, este refúgio ergue-se tocando apenas a partir de um único ponto como se, de certos ângulos, as quatro paredes estivessem a flutuar.
Se “é o sonho de qualquer arquiteto ter um projeto num terreno inclinado”, esta construção ilustra os motivos. “A solução nunca pode ser totalmente normal”, justifica o arquiteto responsável, João Caldeira Ferrão. “Aqui, foi importante que pousasse no solo de forma o mais leve possível.”
Situada no alto de uma colina na aldeia de Atalaia de Cima, na Lourinhã, a Casa Plaj nasceu como uma casa de férias para uma família jovem. A cinco minutos da praia, conta com uma vista panorâmica para a costa atlântica portuguesa: sobre o mar, o vale e a própria vila, um pouco mais longe.
Os clientes, um jovem casal alemão com dois filhos, estavam de férias na zona Oeste quando se cruzaram com este pequeno terreno. “Queriam mudar de casa e entraram em contacto para trabalharmos com eles. Como estávamos na Suíça, encontrámo-nos a meio do caminho para os ouvir”, acrescenta.
A intervenção do atelier extrastudio, fundado por João, começou ainda em 2019, um pouco antes da pandemia. “Os preços na Alemanha tinham subido de tal forma que tornou-se mais viável comprar o terreno e construir uma casa de férias noutro País”, destaca. “A certa altura, perceberam que tinha potencial para ser alugada.”
Com uma forma “radicalmente simples”, esta casa nasceu para se relacionar com a vila, das cores às texturas. Foi com esse objetivo que o arquiteto idealizou “mais do que uma casa em vidro” e optou por revesti-la de uma argamassa com a mesma cal avermelhada que é usada em várias construções da região.
“[O Oeste] nunca foi uma zona rica, o que faz com que as construções não sejam espampanantes”, diz João. “Tínhamos em vista uma casa pensada aos dias atuais, mas com uma relação com uma região que não tem sido levada sério como região de turismo. As intervenções feitas nos últimos 30 anos não foram positivas para a paisagem.”

Só há um ponto de entrada na casa, a partir de uma das plataformas, e chega-se ao chão através de umas escadas. Vista de cima, forma o desenho de uma cruz, simetria essa que é mantida no interior. Áreas como a cozinha, a sala de jantar e a sala de estar surgem organizados através de um único espaço.
Todos os lados acomodam pequenos terraços flutuantes e que ajudam a prolongar o espaço interior para o exterior. Este gesto dá a todos os quartos, voltados para sul, “o seu próprio refúgio privado”, sempre com a mesma vista desafogada.
Apesar de contar apenas com 120 metros quadrados, a área útil foi compensada com a altura do volume. Em alguns momentos, o pé direito chega a ter nove metros de altura e, verticalmente, “confere uma dimensão muito grande e luxuosa” às divisões sociais.
Esta sensação de grandeza e de escala foi também conseguida através de uma grande claraboia, que permite a entrada da luz até nas zonas mais escuras, bem como cortes nas circulações. “A estratégia mais simples é não existir corredores. Com a exceção da entrada, todos os espaços tocam uns nos outros para ampliar o espaço.”
Outro dos destaques está no exterior. Uma longa piscina surge entre pinheiros, paralelamente ao mar, numa paisagem que se manteve intocada. Foi decidido que as árvores seriam mantidas e que seria ainda plantada uma rede de árvores de fruto para acompanhar este tanque.
“Das cores às texturas, houve um diálogo muito próximo com os clientes. Não é apenas um trabalho de autoria, mas um projeto colaborativo. É importante ouvir as pessoas e havia muita coisa que não tínhamos definido no final do projeto que foi afinada”, admite João.
Um dos principais exemplos é a escolha dos tons cinzentos para o interior, uma decisão tomada “para que os espaços fossem todos uniformes”, além da preocupação em funcionar com a envolvente. “De um lado tens o mar, do outro tens uma aldeia muito bonita.”
“O mais importante é, talvez, a relação de continuidade com o passado. Tudo naquela casa é contemporâneo — as formas, os materiais e as forma de construir”, confessa João. “Ao mesmo tempo, procuramos esta proximidade com o que já existiu no passado, com os meios que temos disponíveis.”
Carregue na galeria para ver mais imagens da Casa Plaj, na Lourinhã, dos fotógrafos Clemens Poloczek e José Pedro Marques.

LET'S ROCK






