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A nova exposição em Peniche é um “grito de alerta” para a poluição marinha

O Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia recebe até dia 9 de março de 2025 a mostra sobre uma nova "espécie invasora".
O objetivo é consciencializar para o problema.

Esta exposição não é apenas uma coleção de peças de arte, mas uma poderosa ferramenta educativa. Combinando ciência e arte, Ana Pêgo, bióloga marinha e ativista ambiental, utiliza o conceito de “espécie invasora” para refletir sobre o impacto devastador dos plásticos nos ecossistemas marinhos. O nome “Plasticus maritimus”, atribuído a essa “espécie”, revela uma ironia profunda e provoca uma reflexão imediata. Afinal, o plástico, como uma verdadeira invasora, tem proliferado de forma alarmante, ocupando espaços onde não deveria estar, num processo de colonização dos oceanos que ameaça toda a vida marinha.

Inaugurada a 15 de novembro no Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia, em Peniche, “Plasticus maritimus – uma espécie invasora”, de Ana Pêgo, surge como um grito de alerta sobre a proliferação do plástico nos oceanos. Parte do programa “Novembro mês do Mar”, promovido pela Câmara Municipal de Peniche, a mostra está patente até 9 de março de 2025 e oferece aos visitantes uma experiência sensorial e reflexiva sobre um dos maiores desafios ambientais da atualidade.

O conceito por detrás do nome “Plasticus maritimus” nasceu de uma simples ideia: mostrar que o plástico encontrado nas praias se comporta como uma espécie invasora, espalhando-se pelas costas e oceanos do planeta. A artista e bióloga Ana Pêgo, que iniciou o projeto em 2015, foi para além da simples documentação do problema. Escolheu antes atribuir ao plástico um nome científico em latim, algo que remete aos guias de identificação de espécies, uma ferramenta comum entre os biólogos.

Essa escolha não é apenas uma questão estética, mas estratégica. Ao dar ao plástico a formalidade e a universalidade de um nome científico, Pêgo pretendeu sublinhar a gravidade da situação. Se o plástico é reconhecido e tratado como uma “espécie” globalmente reconhecível, a sua proliferação pode ser mais facilmente entendida como uma verdadeira ameaça à biodiversidade dos oceanos.

A exposição é uma continuação de um trabalho que, desde 2016, tem levado a artista a percorrer várias cidades de Portugal e do mundo, oferecendo oficinas, exposições e formações que abordam o problema da poluição marinha. O seu livro, “Plasticus maritimus – uma espécie invasora”, escrito em 2018 com Isabel Minhós Martins, é recomendado pelo Plano Nacional de Leitura e já foi publicado em 12 idiomas. A obra recebeu diversos prémios, refletindo o impacto que esta mensagem tem tido tanto em Portugal como no estrangeiro.

A New in Oeste falou com Ana Pêgo, que explicou que a exposição “é uma oportunidade de compreender os impactos devastadores da proliferação do lixo marinho, especialmente do plástico, sobre as comunidades biológicas nativas e os ecossistemas oceânicos”. De acordo com a artista, “o lixo marinho, nomeadamente o plástico, está presente em todos os ecossistemas marinhos e terrestres, afetando uma infinidade de espécies e comprometendo a saúde dos oceanos. O plástico não se decompõe facilmente; ele fragmenta-se em microplásticos que acabam por ser ingeridos por diversos organismos marinhos, causando danos à fauna e flora, e, em última instância, aos seres humanos.”

O problema do plástico nos oceanos é, portanto, muito mais do que uma questão ambiental, mas de saúde pública. A ingestão de microplásticos por peixes e outros seres marinhos pode afetar toda a cadeia alimentar, incluindo a alimentação humana. As consequências, muitas vezes invisíveis, são graves e estendem-se para a saúde dos ecossistemas e para a vida que deles depende.

 
 
 
 
 
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A exposição também destaca uma realidade, muitas vezes, ignorada: o que realmente encontramos nas praias portuguesas. Embora as zonas balneares mais isoladas ou “selvagens” possam ser menos afetadas pelo lixo, as áreas urbanas enfrentam uma grande quantidade de resíduos de plástico.

Entre os resíduos mais comuns, Ana Pêgo destaca “as beatas de cigarro, que chegam às praias através das redes de esgoto, e os cotonetes que também são frequentemente encontrados devido ao descarte inadequado nas redes de esgoto”. Além disso, a artista sublinha que o plástico das indústrias de pesca, bem como os microplásticos resultantes da degradação de objetos plásticos maiores, são uma constante nas nossas praias. Este cenário evidencia a profundidade do problema: o plástico não está apenas a ser descartado de forma irresponsável, mas está a infiltrar-se em todos os cantos do nosso ambiente.

Medidas para a redução do impacto do “Plasticus maritimus”

Embora o problema seja grave, Ana Pêgo acredita que ainda há tempo para mudar a situação. A redução do uso de plásticos descartáveis é uma das medidas mais urgentes. A implementação de sistemas de taras recuperáveis, o aumento do preço dos sacos plásticos e a taxação de plásticos leves (como os usados em frutas e legumes) são algumas das sugestões defendidas pela bióloga, bem como políticas mais eficazes para a devolução de copos descartáveis e a promoção de alternativas sustentáveis e reutilizáveis.

Pêgo também defende a criação de uma verdadeira “cultura de desplastificação”, onde cada indivíduo tenha consciência da sua responsabilidade. Ela acredita que a consciencialização sobre o impacto do plástico nos oceanos pode ser alcançada através da educação ambiental, mas que mudanças profundas dependem de uma mobilização global. “Não podemos continuar a arranjar desculpas para a inação. Todos nós temos um papel crucial na preservação dos oceanos”, afirma.

Ao visitar a exposição “Plasticus maritimus”, Ana Pêgo espera que os visitantes reflitam sobre a urgência da mudança. A sua mensagem é clara: “Não se trata de ser radical, mas de compreender a gravidade do problema e agir de forma consciente. O futuro dos oceanos e das espécies que neles habitam está nas nossas mãos.”

Carregue na galeria e conheça as surpresas que esta exposição lhe reserva.

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