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A Elias & Paiva desapareceu, mas as peças continuam a circular (e podem valer 250€)

A fábrica de faianças chegou a ser uma das maiores de Alcobaça, mas faliu em 2001. As antigas instalações continuam encerradas.

“A todo aquele que aqui entra, e amizade alardeia, um grande favor se pede, não falar na vida alheia” – este tipo de quadras tradicionais já todos vimos inscritas nas típicas louças decorativas, que fazem parte do património artístico e cultural português. Várias zonas do país ficaram muito associado ao fabrico deste tipo de objetos, durante o século XX, como Sacavém, Valadares ou as Caldas da Rainha, mas um dos tipos de louça mais icónicos são as faianças de Alcobaça.

Conhecidas pela predominância da cor azul, pintadas com motivos florais ou associadas ao campo e à natureza, estas peças começaram a estar muito presentes nas casas dos portugueses no século passado. Desde pratos, taças, jarras, vasos, entre outras, ainda hoje muita gente possui decoração originária das fábricas de faianças alcobacenses.

Se tiver algum destes objetos em casa, existe a possibilidade de esta ter sido produzido na Elias & Paiva (também conhecida como Elpa). Este foi um dos principais polos industriais de cerâmica do concelho, até encerrar em 2001 e cujas instalações, situadas em Fervença, na freguesia de Maiorga, se encontram encerradas até aos dias de hoje.

As peças fazem parte do património artístico e cultural português.

A Elias & Paiva foi fundada na década de 1940 e entre os primeiros sócios contavam-se António Elias da Silva e Joaquim Paiva, que deram nome ao negócio. Entre as décadas de 50 e 70, a produção de louças da fábrica era pujante e tornou-se numa das maiores do concelho. Inclusivamente, chegou a empregar cerca de 300 trabalhadores e começou a integrar na sociedade outras fábricas e manufaturas mais de menor dimensão, como o foi o caso da Pereira & Lopes.

Além disso, desempenharam um papel fulcral na modernização desta indústria quando integraram a Sociedade de Porcelanas de Alcobaça (SPAL) como membros fundadores, em 1965. Juntamente com outras fábricas de faianças, como a Raúl da Bernarda, este cluster industrial permitiu que fosse dado um salto tecnológico na produção e deu os primeiros passos no sentido de expandir o mercado externo. A sociedade mantém-se de pé até hoje e é um dos maiores empregadores do concelho.

Contudo, na viragem do milénio, a Elias & Paiva passou por grandes dificuldades financeiras, acumulando dívidas a fornecedores e salários em atraso aos colaboradores. A empresa acabou por declarar falência e encerrar portas em dezembro de 2001, ficando por pagar três meses de salários e indemnizações. Esta situação levou à realização de um protesto, em janeiro de 2002, com uma marcha lenta entre as instalações da fábrica e a casa de um dos administradores, em Valado dos Frades.

Assim, com o encerramento da empresa, o armazém com uma área de 7920 metros quadrados ficou ao abandono e fechado desde essa altura. Dentro dele, ficaram também maquinarias, materiais e louças desperdiçadas. Com o arrastar dos anos, acabou por ficar bastante degradado, tornando-se numa autêntica ruína.

O estado das antigas instalações da fábrica Elias & Paiva, em 2018. (Créditos: André Ramalho/Abandonados.pt)

Somente em 2018 o edifício foi colocado à venda, contudo este permanece encerrado. A NiO contactou a Junta de Freguesia de Maiorga que garantiu que este foi efetivamente adquirido, no entanto, desconhece quem sejam os novos proprietários. Além disso, confirma que o armazém foi reabilitado e que este já se encontra novamente para venda ou aluguer, desconhecendo quaisquer atividades que nele sejam desenvolvidas.

A Elias & Paiva fechou, mas as louças continuam por aí

As faianças de Alcobaça distinguem-se pela combinação entre tradição artesanal e produção semi-industrial, que lhes confere um estilo próprio e facilmente reconhecível. Realizadas em pasta cerâmica branca vidrada, apresentam quase sempre decorações pintadas à mão, mesmo quando produzidas em grande escala. Os motivos florais exuberantes, arabescos e pequenos pássaros são elementos centrais, aplicados com pinceladas visíveis e cores vivas, principalmente o azul-cobalto, com pormenores a dourados e prateados.

A antiga fábrica já tem novos donos, mas continua encerrada. (Créditos: André Ramalho/Abandonados.pt)

Estas características fazem com que estas louças continuem a ser bastante procuradas. Aliás, estão ainda à venda peças produzidas pela própria Elias & Paiva em plataformas online.

No caso do Olx, pode encontrar vários conjuntos de louças e alguns bem valiosos. Por exemplo, está à venda um conjunto com uma terrina, uma jarra, quatro pratos pequenos, três chávenas, um açucareiro e uma chaleira por 200 euros. O vendedor, que é de Braga, garante que os artigos têm mais de 80 anos.

Já um vendedor de Guimarães, oferece um serviço de café produzido pela Elpa por 250€. Este conjunto é composto por um tabuleiro, um bule, uma leiteira, um açucareiro e duas chávenas com pires. No portal Etsy, pode também encontrar uma peça considerada rara que é um vaso de faiança com tampa. Está à venda por 125,59 euros, é ornamentado com desenhos anjos e flores e data dos anos 80.

A realidade é que, ainda na atualidade, a cerâmica tem um peso significativo na economia de Alcobaça e do Oeste. Em 2024, o concelho de Alcobaça exportou cerca de 319,7 milhões de euros em bens, representando 18 por cento do total das exportações da região, segundo dados da CIM Oeste. O setor de obras de pedra, cerâmica e vidro foi o mais exportador, com cerca de 81,56 milhões de euros.

Carregue na galeria para ver outras peças da Elpa, disponíveis em plataformas de venda online.

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