Renata Henriques, natural das Caldas da Rainha, é uma pessoa que não se deixa acomodar facilmente. Com 33 anos, já percorreu mais de 25 mil quilómetros, aventurando-se pela Europa de bicicleta e tornando-se uma verdadeira viajante sobre duas rodas.
“Antes de iniciar esta fase da minha vida como cicloviajante, as minhas experiências de viajar ou passear de bicicleta limitavam-se a voltas em família e com amigos, que incluíam trajetos das Caldas à Foz, a Ecopista do Dão e uma viagem de alguns dias numa bicicleta de montanha pelos 370 quilómetros da Grande Rota do Zêzere, que comecei na Torre da Serra da Estrela”, revela.
Em 2018, já com o gosto por viajar cultivado, realizou uma das suas grandes viagens (na companhia de amigos e ainda sem a bicicleta). Contudo, foi durante a pandemia de Covid-19 que nasceu o desejo de embarcar numa aventura ainda mais arrojada. A ideia inicial era atravessar a Europa, de Portugal até à Noruega, a pedalar, mas as restrições à circulação e as preocupações com a segurança levaram-na a repensar os seus planos. Nesse período, aproveitou para fazer um curso online de programação na Academia de Código, com o intuito de poder trabalhar remotamente enquanto viajava. “Queria ter a liberdade de me mover sem estar presa a um local”, explica Renata.
Para conciliar o trabalho com as viagens, começou a investigar opções que lhe permitissem atingir os seus objetivos. Foi então que descobriu a plataforma Workaway, que lhe permitia ficar na casa de pessoas em troca de ajuda com algumas tarefas. Através deste serviço, soube de um projeto na Noruega que implicava embarcar num veleiro dedicado à limpeza dos oceanos. “Porque não ir de bicicleta até lá, sendo essa a forma mais sustentável de lá chegar?”, pensou.
Como experiência inicial e considerando a sua falta de preparação, em 2021, Renata optou por colocar a bicicleta num autocarro e seguir para Amesterdão, nos Países Baixos. A partir de lá, começou a pedalar pela Europa: passou pela Alemanha, Dinamarca, e visitou a Islândia e as Ilhas Faroé.
Embora o plano inicial fosse seguir diretamente para a Noruega, a sua flexibilidade e espírito aventureiro levaram-na a explorar mais a fundo a Islândia e as Ilhas Faroé, onde passou cerca de um mês e meio em cada lugar. “Esta foi uma das fases mais aventureiras desta primeira viagem”, recorda. No entanto, em setembro, com a chegada do inverno, percebeu que não possuía a preparação necessária para continuar até à Noruega e decidiu regressar a Portugal, combinando pedaladas, autocarro e barco.

A viagem que iria marcar a trajetória de Renata como cicloviajante começou no verão de 2022. Partiu de Tarifa, no sul de Espanha, com o objetivo de alcançar o ponto mais a norte da Noruega, atravessando 22 países ao longo do percurso. Durante essa jornada, enfrentou temperaturas extremas, chegando a acampar com 13 graus negativos. “Viajar em temperaturas tão baixas apresenta desafios únicos. Não se trata apenas de pedalar até ao próximo destino, mas de garantir um abrigo seguro e quente no final do dia”, conta Renata, que, em muitos momentos, se viu a depender de abrigos gratuitos na floresta finlandesa ou de casas de pessoas que a acolhiam.
Entre as experiências marcantes dessa viagem, Renata destaca a sensação de liberdade e segurança que encontrou nos países nórdicos. “Na Finlândia, por exemplo, deixava a bicicleta estacionada em qualquer lugar e ela estava sempre lá quando voltava. Essa confiança nas pessoas proporcionou-me uma sensação de paz rara”, reflete.
A “Alma” que a acompanha desde sempre
A sua bicicleta, a que deu o nome de “Alma”, uma bicicleta trekking das mais elementares, é a sua fiel companheira de viagem. Renata adquiriu o veículo com a intenção de fazer passeios durante a pandemia, enquanto residia em Lisboa, mas já com planos de futuras aventuras em mente. Na altura, contou com o apoio de duas entidades: o Fundo Ambiental e o Programa de Apoio à Aquisição de Bicicletas da Câmara Municipal de Lisboa.
À medida que percorre mais quilómetros, vai melhorando e substituindo as peças para garantir que está bem preparada para longas viagens. “Escolhi o nome ‘Alma’ porque faz sentido em inglês [soul], é uma palavra que outras pessoas também podiam entender e transmite a mensagem que desejava. Além disso, é ela quem alimenta a minha alma e o meu espírito”, afirma.
Agora, Renata tem um novo objetivo e uma nova viagem em mente: em junho deste ano, partirá em direção à Austrália. O percurso até lá não será direto. “Não se trata do destino final, mas de como chegamos lá. Podemos fazer desvios inesperados, como aconteceu na minha viagem para a Noruega, e é isso que torna tudo mais interessante.”

Acompanhada pelo namorado, Mateusz Jabłoński, de 27 anos, — que conheceu durante uma das suas viagens pela Europa, onde também ele pedalava sozinho — Renata planeia embarcar neste desafio sem pressa e sem uma data de regresso definida. O objetivo é explorar ao máximo os países que atravessarem, sem prazos para chegar, cruzando quatro continentes: Europa, África, Ásia e Oceânia. “Deveríamos chamar a esta viagem a ‘forma mais longa de chegar à Austrália’, porque, conhecendo-nos como nos conhecemos, vamos andar por montes e vales”, diz, a sorrir.
No fim de semana de 15 a 16 de março viajou de autocarro até à Polónia para estar na exibição de uma das suas fotografias que passou à final do concurso de fotografia do Kolosy, — o maior festival de viagens da Europa — em Gdynia, na Polónia. A foto de Renata está entre as 24 finalistas, na categoria “Paisagem”. “Conheci este festival porque o evento decorre na cidade do Mateusz em Gdynia”, revela.
Carregue na galeria para ver alguns dos locais por onde Renata já passou de bicicleta.