Há, efetivamente, uma ligação entre o consumo habitual de carne vermelha e o aumento do risco de desenvolver diabetes tipo 2. Se come pelo menos duas fatias de fiambre por dia, poderá aumentar o risco de ser afetado pela doença em 15 por cento. Essa é a conclusão da investigação publicada a 20 de agosto na revista “The Lancet Diabetes & Endocrinology”, com base num estudo que utilizou dados de quase dois milhões de pessoas de 20 países do Médio Oriente, América Latina e sul da Ásia. A Universidade Britânica de Cambridge liderou toda a investigação.
As informações recolhidas pelo estudo incluem dados sobre a idade, sexo, comportamentos de saúde e índice de massa corporal dos indivíduos. “A nossa investigação fornece a evidência mais completa, até à data, da associação entre o consumo de carne processada e carne vermelha não processada e o aumento do risco futuro de diabetes tipo 2”, afirmou a investigadora de epidemiologia da Universidade de Cambridge, Nita Forouhi, numa nota de imprensa.
Os investigadores descobriram que a ingestão de 50 gramas de carne vermelha processada, o correspondente a duas fatias, aumenta as probabilidades de desenvolver a doença nos dez anos seguintes, comparativamente a alguém que não tenha esse hábito. “A carne vermelha contém altos níveis de gordura saturada, associados à resistência à insulina e ao risco de diabetes. Além disso, os métodos de confeção típicos, como fritura a alta temperatura, podem gerar compostos que também contribuem para esse risco”, revela a nutricionista Lilian Barros.
“O fiambre e outras carnes processadas são ricas em conservantes, como nitritos, e possuem altos níveis de sal e gorduras saturadas, que podem contribuir para esse aumento de risco. No entanto, convém saber analisar os dados corretamente”, aponta.
A nutricionista esclarece que o estudo não revela que 15 por cento das pessoas que comem duas fatias por dia irão desenvolver a condição, mas sim que existe uma associação “entre o consumo diário de 50 gramas de carnes processadas e a diabetes, com um Hazard Ratio (HR) de 1,15”. “O HR manifesta-se sobre o risco absoluto de desenvolver doença.”
Lilian Barros exemplifica com o caso de uma mulher de 40 anos sem antecedentes familiares da doença, que faça treino regular e tenha uma dieta saudável. “Nesse caso tem um risco de desenvolver a doença, ao longo dos próximos cinco anos, a rondar os dois por cento; se ingerisse 50 gramas de carnes processadas todos os dias, esse risco aumentaria 15 por cento, portanto para 2,3 por cento e não para 17 por cento”, refere, acalmando quaisquer alarmismos. “Devemos considerar este risco, claro, mas não é por comermos fiambre que iremos automaticamente desenvolver diabetes”, esclarece.
Embora o alimento analisado tenha sido a carne vermelha, também a carne de aves está associada ao problema, porém numa percentagem mais baixa, de apenas oito por cento. “Para reduzir o risco é recomendável substituir as carnes vermelhas e processadas por fontes de proteína mais saudáveis, como peixes, aves (sem pele), leguminosas, ovos, queijos magros e tofu. Também a ingestão de fibra é importante.”