“Solidariedade e não caridade.” Este é o lema da Associação Internacional de Artistas Pintores com a Boca e o Pé (APBP) desde a sua fundação, em 1957, pelo pintor alemão Erich Stegmann. Criada como uma rede de autoajuda para artistas com deficiência nos membros superiores, a associação continua a transformar vidas em oito países.
Em Portugal, a APBP encontrou estabilidade em 1993, quando Margarida Martins assumiu a direção. Formada em Língua Inglesa e Alemã, Margarida foi contactada por um representante internacional da associação para abrir uma filial no País. Apaixonada pela Alemanha, onde viveu durante três anos, aceitou imediatamente. “Achei que era um projeto interessante e dentro daquilo que pretendia, porque queria um trabalho que me mantivesse em contacto com o estrangeiro”, conta à NiT.
A APBP ajuda artistas que, devido a uma deficiência, não podem usar os membros superiores, seja esta condição congénita ou adquirida. “O nosso principal objetivo é promover o lado artístico”, explica Margarida. Para se associarem, os candidatos devem enviar um relatório médico e exemplos das suas obras, que são depois avaliadas por um júri. Após serem aceites, tornam-se bolseiros e passam a receber apoio financeiro para desenvolverem técnicas artísticas.
Com o tempo, os bolseiros podem evoluir para membros efetivos, que já têm direito a uma remuneração mensal, mesmo que deixem de pintar. “É por isso que o nosso lema é ‘solidariedade e não caridade’, porque ganham dinheiro em troca de um trabalho”, sublinha Margarida. Além disso, os artistas têm a possibilidade de dar palestras em escolas, à medida que partilham as suas experiências .
Em Portugal, a associação conta com duas artistas: Maria Vitória Nogueira, 50 anos, e Maria de Lurdes Oliveira, de 70. “A Maria de Lurdes entrou na associação quando tinha cerca de 17 ou 18 anos. Nasceu sem os braços, mas mesmo assim vive sozinha e sempre se habituou a fazer tudo com os pés, inclusive pintar.”
Apesar do desejo de atrair mais membros em Portugal, Margarida acredita que muitos potenciais artistas ficam desconfiados quando são convidados . “Temos sempre a esperança de novos contactos”, afirma.
A nível global, a APBP tem milhares de membros. O dinheiro arrecadado com a venda de artigos é distribuído entre todos, garantindo apoio até em anos difíceis. “O dinheiro surge graças aos postais que são vendidos ao longo do ano. O primeiro é na primavera, que é mais pequeno, e depois há o do Natal, onde já existe uma aposta maior.”
Os motivos dos postais são pintados pelos próprios artistas e selecionados por cada filial. Para comprar uma coleção, é possível fazer a encomenda através do site da APBP. Novos membros podem adquirir cinco postais e um calendário de bolso por 5€, enquanto clientes regulares pagam 14,60€ por seis postais e um calendário. Há também uma coleção empresarial com 12 postais e um calendário por cerca de 17,50€.
Além de apoiar artistas, a APBP contribui para a economia nacional. “Funciona como uma empresa normal e paga todos os impostos”, explica Margarida. “Não temos qualquer benesse do Estado e funcionamos apenas da venda dos nossos artigos.”
Ser diretora da APBP é, para Margarida Martins, uma fonte constante de inspiração. “A associação tem artistas que estão paralisados do pescoço para baixo e que pintam com a boca, deitados na cama e com o quadro preso em cima da cabeça. É a arte que os faz continuar a lutar.”
Carregue na galeria e veja algumas das obras feitos pelos artistas da Associação.