Nascido em Nova Iorque, mas com o coração no Oeste português, João Carlos é um dos nomes mais respeitados da fotografia em Portugal e no estrangeiro. Com uma carreira que lhe valeu o prestigiado Hasselblad Master Award, em 2010, bem como colaborações com marcas internacionais, o fotógrafo conta-nos como o seu percurso artístico foi moldado por um amor profundo pela imagem e uma ligação inquebrável às suas raízes lusas. À NiO, revela a história por detrás das suas fotografias, a vida entre Lisboa e o Oeste e os projetos que o mantêm em constante evolução.
“A fotografia está comigo desde sempre, graças à minha mãe e avó. Elas documentavam todos os nossos momentos e, desde cedo, que fiquei fascinado pelos álbuns de família”, recorda. Ainda em miúdo, já sabia que queria ser artista, mas foi ao tentar registar as suas próprias pinturas que descobriu o poder da fotografia para contar histórias. A sua curiosidade cresceu ao longo dos anos, levando-o a explorar diferentes técnicas e a estudar na Ar.co em Lisboa, onde encontrou a sua vocação definitiva. “Foi o mestre João Queiroz que me incentivou a focar-me na fotografia e isso mudou o meu caminho,” explica.
O Hasselblad Master Award e a busca pela autenticidade
A grande viragem na sua carreira aconteceu com a atribuição do Hasselblad Master Award, um dos prémios mais respeitados da fotografia mundial. “Ganhar o prémio foi transformador, mas também trouxe uma responsabilidade enorme,” admite. Com o prémio, surgiu a necessidade de superar expectativas e de se tornar ainda mais exigente com o seu trabalho.
“O que diferencia o meu trabalho é a autenticidade e a capacidade de contar histórias de forma visceral. Tento que cada imagem vá para além do visual e provoque uma reflexão sobre temas profundos, como a identidade e a resiliência,” acrescenta o fotógrafo de 47 anos.
Ao longo de 20 anos de carreira, conquistou um portefólio extenso, marcado por colaborações com grandes marcas e publicações de renome. Entre os seus clientes estão nomes como Nike, Vodafone, HP e Avon, assim como editoras e revistas internacionais que procuram a sua capacidade única de criar imagens poderosas e autênticas. No mundo da moda e beleza, já trabalhou com Schwarzkopf Hair, Wella, Ogilvy e Universal Music, trazendo uma nova dimensão visual a campanhas publicitárias e editoriais.
Além das marcas, é frequentemente requisitado por revistas como “Elle”, “Forbes”, “Wallpaper” e “Numero”, onde explora temas profundos como identidade e resiliência, com uma abordagem sofisticada e emocionalmente envolvente. A sua arte não se limita a uma estética bonita, ela envolve os espectadores numa narrativa, tornando cada fotografia numa experiência visual única. João explica: “Cada projeto é uma oportunidade de desafiar os limites e de criar algo com significado, que vá além da imagem.”
Apesar de viver em Lisboa, onde encontra a “energia criativa e a cena artística vibrante” que o inspira, João nunca se afasta verdadeiramente do Oeste. “As Caldas da Rainha e a Lagoa de Óbidos são o meu refúgio, onde recarrego energias e me conecto com a natureza e as minhas raízes.” Para João, a autenticidade das paisagens e tradições portuguesas alimentam a sua criatividade, oferecendo um contraste com o ritmo acelerado da capital.
Com uma carreira repleta de conquistas, João vê na fotografia uma ferramenta para explorar e inspirar a empatia. “Quero que o meu trabalho inspire as pessoas a olharem para dentro de si e para os outros, como um espelho que nos convida a refletir sobre as nossas histórias e conexões.” Mais do que captar a imagem, João quer provocar emoções e criar uma ligação entre o público e as suas narrativas visuais.
Novos projetos e um futuro de experiências imersivas
Além da fotografia, João está a explorar novas formas de expressão artística. “Estou na fase final do projeto Rainhas de Portugal, que explora a identidade cultural com um olhar contemporâneo.” No horizonte, está também The Hugging Machine, uma instalação sensorial que explora a relação entre o toque e a saúde mental, combinando a fotografia com outros elementos imersivos. “Pretendo criar experiências que permitam ao público interagir fisicamente com a obra.”
Para aqueles que começam agora no mundo da fotografia, João é claro: “Mantenham-se fiéis à vossa visão e não se deixem levar pelas tendências.” O artista acredita que a autenticidade vem das experiências únicas de cada um e que o caminho da fotografia é uma jornada pessoal. “Arrisquem, errem, aprendam — é isso que fortalece a autenticidade de um trabalho,” revela.
João Carlos não só captou a essência das suas raízes, como soube transformá-la numa linguagem visual única e internacional. A sua história é uma inspiração para quem procura na arte um espaço para a reflexão e a conexão com o que é verdadeiramente importante.
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