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Novo livro de António Homem Cardoso mostra 100 artistas portugueses como nunca os viu

Retratou os alter egos das personalidades nas profissões que imaginaram ter na infância. As imagens são incríveis.
Alexandra Lencastre queria ser aviadora.

António Homem Cardoso, autor prolífico com uma vasta bibliografia, estava cansado de elaborar “livros abstratos”. Aos 79 anos, resolveu reinventar-se e lançou “Alter Ego”, obra que reúne retratos a preto e branco de 100 artistas portugueses e as profissões que sonharam ter na infância.

“Para pessoas da minha idade, criar coisas novas é muito importante porque, de certa forma, refrescamos a alma e somos transportados para a nossa juventude”, revela o fotógrafo em entrevista à NiT.

Nascido em Negrelos, São Pedro do Sul, no distrito de Viseu, em 1945, mudou-se para Lisboa aos dez anos. O processo de criação da obra, lançada a 10 de outubro, fê-lo recuar a esse período da sua infância e recordar as aspirações de futuro que tinha.

“Pensei que seguiria a carreira de pedinte ou vagabundo. Mais tarde, descobri que, com a fotografia, poderia ter um estilo de vida semelhante, mas com algum dinheiro”, brinca. Fotógrafo autodidata desde os 15 anos, fez o curso de operador foto-cine nos serviços cartográficos do Exército, durante o serviço militar obrigatório.

No início da década de 70, monta um estúdio em Lisboa e torna-se fotógrafo profissional. Trabalhou como repórter fotográfico e, mais tarde, dedicou-se à publicidade, à moda e ao retrato. Ao longo de mais de seis décadas de carreira, cultivou amizades com inúmeras personalidades, das mais diversas áreas, da monarquia à política, passando pelo mundo artístico.

A sua rede de contactos relevou-se muito útil durante a elaboração de “Alter Ego”. Porém, Homem Cardoso considerou a seleção dos convidados “um desafio” e entregou a tarefa à Casa do Artista e à Fundação Altice.

“Os retratados mais jovens são embaixadores da Altice Portugal”, esclarece. Entre a centena de personalidades fotografadas, o autor destaca uma, que considerava essencial ao projeto: a cantora Isabel Silvestre, que dedicou a sua vida aos Cantares de Manhouce, em São Pedro do Sul, e possui “milhares de canções fantásticas”.

O desenvolvimento do livro levou cerca de um ano e meio e, durante esse período, surgiram diversos obstáculos. A maior dificuldade foi convencer  alguns dos artistas a escolherem o seu alter ego. “Tiveram de revisitar as memórias de infância. Só os ajudei”, explica.

O processo também implicou “meia dúzia de viagens”: Homem Cardoso fotografou José Cid em casa do músico e a atriz Rita Blanco “num monte próximo de Lisboa”.

Contrariando as suas expetativas, nenhum dos retratados imaginou que teria uma profissão inusitada, o que o surpreendeu. “Estava com medo que me aparecesse um cobrador de impostos e, em vez de o fotografar, teria de lhe dar com a máquina na tola”, brinca. 

Ao longo dos anos, o autor admite ter tido “bastante sorte” com os mais de 100 livros que publicou. E, mais uma vez, o feedback do público “tem sido ótimo”. “Espero que ‘Alter Ego’ tenha uma boa recetividade porque, provavelmente, será minha despedida do mundo literário. Quero sair pela porta da frente, com uma nota positiva.”

A poucos meses de comemorar o seu 80.º aniversário, a 11 de janeiro de 2025, António Homem Cardoso tem consciência de que não se pode envolver em “grandes projetos”. No entanto, não descarta novas oportunidades.

“Se surgir algo que me agrade, e se eu estiver bem, fá-lo-ei com o mesmo entusiasmo que dediquei ao meu primeiro trabalho”, assegura. Dado o modo como encara a fotografia, não poderia ser de outra forma: “É uma maneira de fazer amor com o mundo, e transformá-lo, através dos nossos olhos, em algo melhor”.

O livro “Alter-Ego: 100 Retratos de Artistas Portugueses Como Nunca os Viu”, publicado pela Porto Editora, tem 152 páginas. Já está disponível nos pontos de venda habituais e online por 31,50€, graças a um desconto de dez por cento — o preço habitual será 35€.

Carregue na galeria e veja alguns dos retratos captados por António Homem Cardoso.

 

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