O Bordado de Óbidos vê contada a sua história numa exposição dedicada à sua mentora. As ideias originais e a obra de Maria Adelaide Ribeirete estão expostas no Museu Abílio de Mattos e Silva até 1 de setembro.
A exposição “Linhas com histórias que guardam memórias — Bordado de Óbidos” é um regresso ao passado e à origem do bordado obidense. A mostra traz ao museu o saber fazer, a perseverança e o arrojo de Maria Adelaide Ribeirete quando, em 1951, vê nas suas congéneres a necessidade de poderem ter uma fonte de rendimento, mantendo-se em casa a cuidar das suas famílias.
“A maioria das pessoas, à época, eram pobres, não havia muito dinheiro, mas havia talento, dedicação e brio. Antigamente, as mulheres aprendiam a técnica do bordar, em casa, com as suas mães.” E Maria Adelaide Ribeirete não pensou duas vezes, como adiantou a Câmara Municipal de Óbidos.
Começou a estudar um bordado, que fosse criado em Óbidos, para Óbidos e para as suas gentes. Para o efeito, iniciou-se um período de estudos dos tetos da Igreja de Santa Maria, observando o que poderia ser feito com a decoração.
“Aos poucos, começa com o espelho no colo e com o jeito para o desenho, retira elementos do teto da Igreja para o papel, cria diversas composições e aplica-as em tecido, para de seguida bordar”, descrevem Carolina Pinto e Pedro Luís, responsáveis pela vertente histórica da exposição.
Ao desenho, Maria Adelaide alia a perfeição do bordado, “cuja representação recria, entre os azuis, verdes, amarelos, castanhos e rosas que rodeiam um pequeno castelo alcandorado, rodeado pelas suas muralhas”. A estas composições, a bordadeira atribuiu determinados pontos: “ponto pé de flor” e o “ponto sombra”, também designado por “ponto pé de galo”, ao qual chamava “ponto espinhado”.
Criado o bordado de Óbidos, houve a necessidade de pôr as mulheres a executá-lo. Mais uma vez, “Maria Adelaide Ribeirete teve a força, a coragem e a dedicação para dar trabalho a essas mulheres, pagando-lhes do seu salário, fruto da venda dos seus próprios trabalhos”.
Em 1954, recebe um prémio de qualidade, no primeiro Concurso Nacional de Artes e Ofícios. Esta é, de resto, a primeira referência histórica, com data concreta, da existência do Bordado de Óbidos.
Numa nova prova da sua tenacidade e empreendedorismo, a Mestre do Bordado de Óbidos, já com 93 anos, decide organizar um curso, o qual ministrou e financiou, deslocando-se todas as manhãs de sábado, entre Lisboa e Óbidos, para transmitir a arte que criara e que, em dado momento da história, tivera um papel preponderante na economia da vila de Óbidos.
A Maria Adelaide Ribeirete fica também a dever-se, a 30 de dezembro de 1998, a fundação, com as suas discípulas, da Associação Artesanal e Artística “Bordar Óbidos”, criando com elas e com o Município de Óbidos o selo de garantia — qualidade e genuinidade do Bordado D’Óbidos, afirmando-o desde então no Universo da Arte e do bom Artesanato de Portugal.