“Chega para desestabilizar o grupo principal de ‘Rabo de Peixe’”, começa por explicar Raimundo Cosme à NiO. O ator, natural de A-dos-Cunhados, em Torres Vedras, dá corpo a um personagem que surge para abalar o equilíbrio das relações centrais da trama.
Canina, assim se chama, é conhecido por agir sem escrúpulos, explorar as debilidades dos outros para alcançar vantagens e lucro, inserindo-se num universo ficcional marcado pela entrada de um cartel brasileiro nos Açores, o que altera as dinâmicas e aumenta a tensão dramática.
A segunda temporada da série portuguesa, orquestrada por Augusto Fraga, está disponível na Netflix desde 17 de outubro passado, e conta com Raimundo Cosme no elenco. O interesse do ator, atualmente com 37 anos, pelo teatro surgiu na adolescência, “por volta dos 14, no nono ano”, quando descobriu o trabalho de dramaturgos como Shakespeare, Gil Vicente e Almeida Garrett, entre outros.
“Comecei a apresentar os meus trabalhos como pequenas encenações, mas foi algo intuitivo. A partir dali, comecei a perceber que era aquilo que queria fazer. Mas tudo aconteceu de uma forma muito orgânica, não sou uma daquelas pessoas que sentiram o chamamento… Não tenho uma dessas histórias para contar, foi algo muito natural. Conheci uma área nova, que me despertou interesse e fui explorando, fui ‘andando’, naturalmente”, revela, em conversa com a NiO.
No décimo ano, envolveu-se em atividades extracurriculares ligadas ao teatro no Externato de Penafirme, onde deu os primeiros passos na área onde viria a fazer carreira. Já com o secundário terminado, em 2009, ingressou na licenciatura de Teatro da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha.
Durante o percurso universitário, direcionou a atenção para processos de criação autoral e trabalhos conjuntos. “Interessava-me fazer espetáculos meus, em coletivo, e começar a imaginar coisas a partir do zero”, explica.
Embora se tenha especializado em teatro, o primeiro trabalho profissional de Cosme foi na televisão. Por sugestão de uma professora, participou num episódio de “Liberdade 21”, experiência que lhe abriu portas para integrar, em 2009, o elenco de outra série televisiva, “Lua Vermelha”. Foi neste contexto que conheceu Cecília Henriques, com quem fundou a Plataforma285, em 2011, coletivo dedicado à dramaturgia contemporânea e à exploração de novas linguagens cénicas. Além de ator, nos projetos da companhia assume também as funções de diretor artístico, encenador e dramaturgo.
Entre filmes, tais como o “Soldado Milhões”, séries e peças de teatro, o vasto percurso artístico de Raimundo Cosme acabou por levá-lo até à segunda temporada de “Rabo de Peixe”, que é, novamente, um sucesso.
“Esta série foi uma das coisas mais divertidas e interessantes que fiz nos últimos anos”, confessa o ator, que vai ainda mais longe e descreve o trabalho como “o mais divertido e interessante da carreira”.
“O processo foi abençoado, uma coisa que adorei fazer desde o primeiro segundo. Já tinha sido chamado para um casting na primeira temporada e chamaram-me para novamente nesta segunda”, revela.
“A primeira fase foi feita em casa, com o telemóvel, e fiz aquilo a pensar ‘vou fazer este casting só por descargo de consciência’, porque não estava minimamente preparado, nem tive tempo. Fiz duas versões e pensei ‘já está, que se lixe’”, recorda.
Contudo, o processo “descontraído, mas desafiante“ não ficou por ali. “Quando me chamaram para o segundo casting, de repente fiquei nervoso, e só pensava: ‘isto agora tem que correr bem’. Apesar de ter feito o primeiro a despachar, tinha gostado imenso de fazer aquela cena”, afirma.

A audição presencial contou com a presença do realizador de “Rabo de Peixe” e culminou na integração de Raimundo no elenco. “Saí da sala a pensar que queria mesmo ficar com aquele trabalho, pela forma como o Augusto Fraga dirigiu o casting e me dirigiu. A facilidade de todo o processo, foi mesmo incrível”, sublinha.
O personagem que interpreta, Canina, aparece de rompante na segunda temporada. “É um estratega, alguém que vende tudo e que tem muito poucos escrúpulos. É alguém que está disponível para fazer todas as coisas e para convencer os outros a comprarem tudo o que tiver para vender, para ganhar algum dinheiro e vantagem. Ao longo da série vai acumulando e descobrindo coisas sobre as pessoas que o rodeiam, para que mais tarde, no momento certo, possa usá-las”, explica o ator.
Relativamente à forma como se preparou para dar vida ao Canina, Raimundo admite que gosta de ter a sua liberdade criativa, procurando acrescentar valor ao personagem, sem lhe alterar o principal. “O guião da segunda temporada estava muito bem preparado. Nós tentávamos respeitar o espírito dos personagens, e, sobretudo, acrescentar. Li muitas vezes os guiões e revi a primeira temporada, porque entrei para desestabilizar um bocadinho aqueles quatro, portanto, era essencial conhecer muito bem a história.”

Relativamente aos bastidores das gravações da segunda temporada, Raimundo Cosme destaca o profissionalismo e camaradagem da equipa. “O ambiente era mesmo fantástico. Embora já conhecesse a maioria do elenco, não conhecia a pessoa com quem contracenava mais, o André Leitão. Adorei-o, é um super ator e um excelente colega. O André chega sempre contente e com muita energia para fazer as coisas. Sabe o texto todo, e tem as suas opiniões sobre ele”, adianta.
A experiência, reforça Raimundo, foi “abençoada”. “O núcleo principal era todo ótimo, bons colegas e camaradas. Senti-me muito bem recebido, o ambiente era fenomenal. Gravei mais cenas no continente, mas também fui aos Açores, sobretudo, no início das gravações da segunda temporada”, acrescenta.
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