Em Fernandinho, uma pequena localidade da freguesia da Ventosa, em Torres Vedras, há um casal que vive ao ritmo das abelhas. Luís e Sónia Costa, de 50 e 46 anos, respetivamente, são os fundadores da Apicosta, uma marca dedicada à apicultura natural, que se distingue pela forma ética, consciente e profundamente respeitadora com que trabalha com estes insetos.
A história começou há 13 anos, e nasceu da curiosidade. “Havia um senhor aqui na aldeia que tinha um apiário e eu costumava ir com a minha filha ver as abelhas – sempre à distância – porque ver os enxames a voar, a entrar e a sair das colmeias, era fascinante”, recorda Luís, em conversa com a NiO. “Um dia percebemos que o espaço estava abandonado, porque o proprietário estava doente. Então, falei com a família e perguntei se podia começar eu a cuidar daquelas colmeias.” Assim nasceram as primeiras experiências, que depressa se transformaram numa verdadeira paixão.
O casal começou a dedicar-se a tempo inteiro às colmeias, e, há cerca de sete anos, deu-se um ponto de viragem. Optaram por abandonar os métodos convencionais e fazer tudo 100 por cento natural. “A apicultura moderna tornou-se cada vez mais industrializada”, explica Sónia. “Produz-se muito, mas à custa das próprias abelhas. Nós quisemos fazer o contrário: privilegiar a qualidade e o bem-estar delas. Não as alimentamos artificialmente, mexemos o mínimo possível nas colmeias e não usamos qualquer tipo de produtos químicos ou sintéticos.”

O resultado é um trabalho artesanal, exigente e em sintonia com o ciclo natural das abelhas. Na Apicosta, o mel é colhido apenas quando está realmente pronto e os produtos têm uma pureza rara. O mel em favo — o mais procurado — encontra-se esgotado neste momento, muito por culpa de as abelhas estarem a ser afetadas pela praga da vespa asiática. Produzem também própolis, cera pura de abelha, que custa 10€ por 250 gramas e têm evaporador natural por 130 euros. Além disso, oferecem aulas e consultoria personalizada a quem quer aprender o método natural, cujo valor é acordado mediante orçamento.
No entanto, o projeto vai muito além da produção. Sónia, que desde o início se dedicou ao estudo e à observação do comportamento das abelhas, escreveu este ano o livro “Iniciação à Apicultura Natural”, uma edição independente que reflete a filosofia do casal.
“Comecei por escrever pequenos textos para as redes sociais, que eram algumas reflexões para divulgar o nosso trabalho”, conta. “Com o tempo, percebi que havia muitas pessoas interessadas em começar e decidi reunir tudo num guia prático, mas também pessoal. É um livro passo a passo, mas não apenas técnico. Fala sobre a forma como acreditamos que as abelhas devem ser tratadas.”

Além da obra, que está à venda online por 26€, – o casal partilha o seu quotidiano num canal de YouTube e na sua página no Instagram, onde mostram as rotinas das colmeias, falam sobre técnicas, e explicam temas como a recolha de mel, o comportamento das abelhas e as ameaças que enfrentam. “O negócio tornou-se cada vez mais a passagem de conhecimento sobre a atividade e não apenas a comercialização de produtos”, sublinham.
Atualmente, têm dez colmeias, e pretendem ficar por aqui. “Se fizermos as contas, cada colmeia pode ter entre 20 e 40 mil abelhas. A área onde estamos não conseguiria fornecer-lhes alimento suficiente se expandíssemos”, explica Luís. “Preferimos manter um número pequeno, garantindo que todas estão bem cuidadas. Produzimos menos, mas com melhor qualidade.”
Essa filosofia está também ligada à preocupação com a vespa velutina, ou vespa asiática, uma ameaça crescente para as abelhas na região. “Este ano, perdemos muitas por causa disso. Por isso, estamos a trabalhar no terreno à volta das colmeias, a plantar mais flores e árvores que sirvam de alimento”, acrescenta Luís.

A apicultura transformou completamente o estilo de vida da família Costa. As abelhas tornaram-se parte da rotina — e até da saúde. “Desde que temos as colmeias, usamos os produtos que nos dão como uma farmácia natural”, conta Luís. “O própolis é um dos melhores antibióticos naturais que existem. Usamo-lo para constipações, dores no corpo. A nossa produção acaba por ser também para nosso uso pessoal.”
A Apicosta é hoje muito mais do que uma marca de produtos apícolas. É um exemplo de como é possível viver em equilíbrio com o ambiente, com paciência e respeito pelos ritmos naturais. Num tempo em que o lucro rápido muitas vezes se sobrepõe à sustentabilidade, o trabalho de Luís e Sónia é um lembrete de que, às vezes, é preciso abrandar.
Carregue na galeria para ver algumas imagens dos produtos e serviços da Apicosta (todas foram captadas por Mara Costa, filha de Luís e Sónia, que tem um projeto de fotografia chamado “Aura“).

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