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A Casa dos Escoceses onde nascem os trajes com 7 saias tradicionais da Nazaré

Com mais de 75 anos de história, é uma referência na região e o lugar para encontrar todas as peças que celebram a tradição.
José Joaquim é um dos sócios.

Na Praça Dr. Manuel Arriaga, bem no centro da vila, há uma loja discreta que guarda mais de um século de vida da Nazaré. Abriu portas em 1919 com o nome Estabelecimento Ferragens, Miúdezas e Mercearias, vendendo de tudo um pouco: ferramentas, parafusos, artigos do dia a dia. Mas foi em 1945 que ganhou o nome por que hoje é conhecida — Casa dos Escoceses —, quando passou a dedicar-se à venda de tecidos. O nome ficou devido aos padrões escoceses dos tecidos de lã que começaram a chegar e a encher as prateleiras. Eram usados nas camisas tradicionais dos homens da Nazaré — e ainda hoje ali se encontra o original.

Em toda a vila, não há outro sítio onde se encontrem os materiais certos para os trajes tradicionais. Só ali. As saias de sete camadas, os aventais bordados, as camisas de lã ou algodão, os tamancos (sapatos), as ceroulas (calças), as cintas, os cachenés (lenços) — tudo vem dali. E não se vende apenas o material: vendem-se conjuntos completos, feitos à medida. José Joaquim Borda d’Água, de 84 anos, e António Alberto Veríssimo, de 75, que estão à frente da loja desde 1988, tratam de tirar medidas, aconselhar e orientar. Para quem quiser, é possível mandar fazer tudo ali mesmo, já que trabalham com duas costureiras que colaboram com a casa há vários anos e que conhecem cada detalhe e exigência.

A maioria dos clientes procura os trajes para festas religiosas, o Carnaval, romarias, ou simplesmente porque tem uma ligação à vila e gosta de manter essa tradição — sejam mais velhos ou mais novos. “Há quem venha com uma fotografia na mão, a querer encontrar uma peça igual. E, mesmo que já não exista, tentamos sempre arranjar algo parecido. Fazemos o melhor possível”, refere José.

Os preços variam. Um traje completo feminino pode rondar os 1500€, dependendo dos materiais. Um avental bordado à mão, com todo o detalhe que se espera de uma peça tradicional, pode custar até 900€. As camisas de lã com padrão escocês, feitas com o tecido original que ali se vende desde os anos 40, ficam por 85€. As ceroulas, os cintos, os cachenés — tudo pode ser comprado à peça, para quem vai compondo o traje aos poucos, ano após ano.

Há vários desfiles durante o ano onde os trajes são obrigatórios.

“São seis saias por dentro e a principal por fora. A que fica junto às pernas é sempre branca — essa nunca muda. As outras cinco são em cores, como azul, rosa ou verde. A de cima é que leva o tecido mais trabalhado. E só depois se coloca o avental”, explica José Joaquim, com a segurança de quem conhece cada regra.

O empresário entrou ainda novo. Estudou até à quarta classe e, aos 11 anos, começou a trabalhar noutra loja do mesmo ramo. Mas não estava satisfeito com o salário e acabou por mudar-se para esta. Nunca mais saiu. Com o tempo, aprendeu tudo o que havia para saber. “Quando vim trabalhar para aqui, não sabia falar nenhuma língua além do português. Os turistas até me perguntam se já vivi noutros países por saber falar bem”, conta, com naturalidade, enquanto explica como é o dia a dia na loja.

Hoje, embora o negócio esteja um pouco mais fraco, vai-se fazendo. A venda intensifica-se na altura do Carnaval, e os clientes continuam a aparecer, seja para um traje completo, seja para um simples tecido. Também se vende para fora, para outras regiões como Santarém, mas a alma da Casa continua a ser a da vila. “Não é pelo dinheiro que estou aqui”, diz José Joaquim. “É pelo gosto, pela rotina, pelo convívio com vizinhos e clientes que já conheço de cor. Se não fosse isto, estava em casa a ver televisão, sem mais nada que fazer”, acrescenta, com um sorriso.

Carregue na galeria para ver mais imagens da loja.

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Praça Dr. Manuel Arriaga 14
    2450-160 Nazaré
  • HORÁRIO
  • De segunda-feira a domingo das 10h às 13h e das 14h30 às 19h

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