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De uma taberna para o mundo. Como nasceu o império familiar da Ginja Mariquinhas

Há mais de 70 anos que se produz o licor mais famoso do Oeste, numa história que já atravessou quatro gerações.
Bernardo Cavalheiro, 4ª geração da família

“Nunca quis ser nada que não tivesse a ver com a ginja”. Bernardo Cavalheiro é um homem orgulhoso. De si e da história da família. Hoje em dia, está à frente do império Ginja Mariquinhas, numa história que começou com o bisavô Abílio Ferreira de Carvalho. 

Em 1949, o Sr. Abílio ergueu uma pequena taberna no Sanguinhal, aldeia do concelho do Bombarral. Ali nasceu o licor de ginja, que se mudaria para Óbidos vários anos depois. Agora, é uma das bebidas mais populares deste concelho. Aliás, o sucesso é tanto que a ginja Mariquinhas se expandiu além das muralhas e até de Portugal, mantendo sempre o negócio na família e a produção de forma artesanal.

Ao longo destes quase 80 anos, a família foi crescendo no meio de ginjais, no lagar e na cave, onde continua a ser possível fazer visitas e provas da ginja Mariquinhas. A tal taberna continua aberta para receber visitas, depois de ter sido renovada há poucos anos. Agora, funciona como mercearia gourmet e cafetaria.

Mas o que vale mesmo a romaria ao Sanguinhal é ver como toda a traça foi conservada, assim como o recheio que lhe confere quase um ambiente de museu. “Tenho 30 anos. Comecei a acompanhar os meus pais na produção e nos eventos ainda nos tempos de criança. Com dez anos já vendia ginjinha nos primeiros festivais de Óbidos”, acrescenta Bernardo, que tirou um curso em Direção de Empresas da Cadeia Agroalimentar, na AESE Business School e está aos comandos desde 2011.

O jovem empreendedor não esconde que “representa muita responsabilidade” liderar o negócio da família. O crescimento da Licóbidos foi progressivo e bem estruturado. A taberna foi o passo inicial. Nos anos 80, com a entrada dos pais de Bernardo neste setor, foi construída uma fábrica de pequenas dimensões e começou a fazer-se chegar o licor de ginja País fora. Bernardo conta que o terceiro marco estratégico foi a aquisição da loja em Óbidos e o início da comercialização da marca na vila. O quarto marco foi o nascimento da marca Mariquinhas, em 2011, já com um ADN delineado pelo gestor.

A terceira geração da família, Cristina e Pedro Cavalheiro, são hoje a gestora financeira e de projetos e o responsável das explorações agrícolas, respetivamente. “Sou responsável pela direção da fábrica, as diversas fases da produção, os planos e estratégias de marketing e gestão executiva da empresa. Temos uma equipa de colaboradores que veste a camisola com muita dedicação e profissionalismo. O nosso sucesso e crescimento são fruto do trabalho de todos”, explica Bernardo.

A ginjinha de Óbidos tem uma quota de mercado própria e de elevada importância na região. “Hoje em dia, o licor de ginja Mariquinhas é muito importante para a região Oeste e para o País, tirámos a ‘ginja da taberna’ e elevámos este produto a um patamar de topo.” A produção do licor impulsionou na região um impacto grande na criação de postos de trabalho direto e indireto afetos à produção e comercialização da ginjinha.

Nos ginjais da Licóbidos contam-se cerca de 25 mil árvores. Os processos industriais e agrícolas na empresa evoluíram, mas é possível manter uma produção 100 por cento natural e artesanal — tal e qual como na receita do bisavô Abílio.

“A receita original é muito simples: ginja, água, álcool e açúcar. Antigamente, produzíamos em cubas de 100 ou 200 litros. Hoje em dia, fazemo-lo em cubas de 25 ou 30 mil litros. Ou seja, a receita continua a ser a original, apenas aumentámos a escala de produção devido à necessidade de fazer chegar a ginjinha aos mercados”.

Bernardo acrescenta: “Com o tempo, sentimos necessidade de desenvolver outras gamas e alcançar outros mercados e segmentos de consumo. Foi assim que desenvolvemos as nossas reservas e edições especiais. Utilizamos carvalho francês e americano, importamos pipas de bebidas de outros países como o cognac de França ou o bourbon dos Estados Unidos”.

Com esta aposta, a marca já alcançou sucessivas distinções e prémios em concursos internacionais. Tudo isto é possível por terem uma produção própria, não dependendo de terceiros. “O fator diferenciador da nossa ginja é que só trabalhamos com a nossa fruta, ou seja, a que produzimos, o que nos permite certificar a qualidade dos produtos. Apostamos também na confiança e qualidade dos nossos parceiros. Por exemplo, o nosso produtor de álcool trabalha connosco há 40 anos”.

A sangria de ginja.

Não só do produto líquido vive este negócio. A marca desenvolveu e guardou em frascos iguarias como doces, geleias e até mostarda de ginja. Bolachas, copos de chocolate — um clássico da região para enaltecer a prova do licor — vinagre de ginja e até para o segmento da saúde e bem-estar criaram as almofadas térmicas de caroço de ginja. Mas atenção que nas grandes superfícies dificilmente deita a mão a estes exemplares. “Os nossos subprodutos da ginja estão vocacionados, essencialmente, para o comércio tradicional”, revela Bernardo.

Em 2011, deu-se o início da internacionalização da marca com a chegada à Bélgica. Neste momento, tem presença em cerca de 30 países, uma dezena destes são clientes muito regulares. Os responsáveis apostaram num nome e imagem forte para a marca. “Mariquinhas vem do Fado de Amália Rodrigues, ‘Dar de Beber à Dor’. Além da música falar das Ginjinhas na casa da Mariquinhas, o nome da marca ‘fica’, nem que seja por brincadeira as pessoas vão lembrar-se no futuro”.

Para a imagem, a escolha recaiu no coração de filigrana, um dos símbolos mais internacionais de Portugal. “É um dos belos símbolos do País — que representa o amor e a família — que procurámos destacar porque é mesmo isso que somos: amor e família”.

Falando agora das experiências. O espaço adquirido por Cristina e Pedro Cavalheiro nos anos 80, em Óbidos, transformou-se há cerca de três anos no primeiro de quatro locais Mariquinhas Experience, que estão em Óbidos, Aveiro, Braga e Porto. Nestas lojas pode não só adquirir todos os produtos da marca, como fazer provas de ginjas e conhecer toda a história da empresa familiar.

Também na casa mãe, nas Gaeiras, é possível realizar visitas e provas, num ambiente mais intimista que inclui uma visita à fábrica e cave de envelhecimento. A lotação máxima é de 30 pessoas. As visitas acontecem todos os dias de semana, duas vezes por dia, às 10 e às 15 horas. Se quiser participar, o melhor é reservar o seu lugar no site.

“Os portugueses, além de serem grandes consumidores, são nossos embaixadores por esse mundo fora, com especial destaque para a nossa imensa comunidade emigrante que procura a nossa Mariquinhas. Contudo, são os estrangeiros aqueles que mais visitam as nossas lojas”, conclui.

Carregue na galeria para conhecer os espaços e produtos da famosa marca do Oeste.

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